​Escolas da Finlândia trocam letra cursiva por tablets: uma análise crítica

Este texto é ua análise sobre de um artigo da Folha de São Paulo.

9 ABR 2018 · Leitura: min.
​Escolas da Finlândia trocam letra cursiva por tablets: uma análise crítica

A partir do ano letivo de 2016, as escolas finlandesas terão mais o ensino da letra cursiva nos seus currículos. O título da matéria enfatiza a utilização de tablets em detrimento da escrita como que numa exclamação, no bom estilo do jornalismo apelativo "Ó céus irão acabar com a letra cursiva! Tudo será feito por computadores e tablets!"

Mas na verdade essa medida é um gesto que foi pensado bem mais amplamente do que uma mera substituição do manual pelo eletrônico. Explico:

A diretora de uma escola na região da capital Helsinque diz que o ensino da letra de mão demanda muito tempo e causa frustração nos alunos. "Queremos incentivar a escrita criativa, e que a criança não se preocupe tanto com a técnica, mas com o conteúdo", afirma. Ou seja, os finlandeses afirmam ser importante sim escrever à mão e que as suas crianças seguirão fazendo isso, mas não necessariamente em letra cursiva. O uso de tablets mencionado na matéria não se trata de uma troca indiscriminada da produção manual pela tecnologia. Lendo minuciosamente o texto, compreende-se que a ideia da inserção mais cedo na digitação em tablets e computadores está mais relacionada à digitação utilizando todos os dedos - habilidade indispensável nos dias de hoje - do que na valorização do eletrônico em si.

É um processo de potencialização do corpo frente às tecnologias, de não-passividade, com direcionamento para habilidades mais importantes e significativas para as crianças durante seu tempo na escola. E não é disso que se trata a educação? Aprender como consequência da curiosidade, da exploração, mas também levando em consideração as necessidades reais que a vida nos impõe?

Quais são as vantagens de se aprender a letra "emendada" (como dizem as crianças) em um mundo escrito em letras "de máquina"? Claro, ela é elegante e requer praticar motricidade fina, mas todos podemos escolher como queremos que seja a nossa caligrafia mais tarde, se assim desejarmos. Quem nunca experimentou escrever de jeitos diferentes na adolescência, por exemplo? Bem me lembro de uma fase em que eu achava muito empolgante e rebuscado escrever em itálico! Já hoje, quando escrevo algum bilhete a alguém, me ocupo de escrever de maneira que o bilhete fique legível, misturando os estilos de escrita despreocupadamente.

Além do mais, os professores na Finlândia que desejarem seguir ensinando esta técnica ainda podem fazê-lo. Sabem o que isso significa? Significa que embora o foco esteja no que é mais prático, há também valorização da relação entre o professor e seus alunos, do saber compartilhado entre eles e também do desejo de ensino do professor. Isso permite que ele possa ajustar o ensino às crianças que conhece e com quem convive de perto, cujas histórias e curiosidades lhe são familiares. E não é isso, afinal, educar?

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Escrito por

Leonor Erberich

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