Envelhecer: esse momento precisa mesmo ser tão difícil?

A velhice transcorre biologicamente da mesma forma para todos. Mas o que difere a passagem para a velhice com suas consequentes mudanças, com inicio principalmente a partir da meia-idade, é que cada pessoa possui uma visão e uma interpretação de sua existência conforme sua história de vida. Essas diferenças são vivenciadas e influenciadas por fatores como personalidade, contexto social e cultural, o grau de experiências positivas e negativas e envolve também o atual momento na idade avançada.

Muitas pessoas ao chegarem nesta fase da vida podem estar sentindo-se deprimidas por muitos momentos difíceis ao longo dos anos, pela não realização dos seus sonhos e tantos outros motivos que não permitiram encontrar oportunidades para um bem viver. Do outro lado, existem aqueles que acumulam experiências de conquistas sociais, materiais e que por vezes ainda se mantém ativos, permitindo assim uma visão de si e do mundo mais positiva e qualidade de vida satisfatória.

Das alterações que configuram e evidenciam o envelhecimento uma delas é o processo de perdas em vários aspectos. Destes, perda de autonomia, restrição de oportunidades, perda profissional, o desgaste e o cansaço físico, as dores que passam a acompanhar diariamente, adoecimento, limitação cognitiva como perda de memória, o momento de luto pela perda do companheiro (a) e etc. Com relação à aparência física, a mulher se torna vulnerável ao perceber a perda da aparência jovial e ver um corpo desarmonioso e no homem, a perda da força física, do vigor. São muitas mudanças para uma fase que acabam gerando desconfortos, estresse, sentimento de fracasso e angústias afetando o equilíbrio psíquico.

A sociedade veio se modificando socialmente de forma muito rápida oportunizando facilidades para a vida do idoso. Profissionais começaram a olhar de outra forma para esta população, buscando melhorias para a saúde na terceira idade. Formas de prevenir e promover a saúde estão acessíveis como médicos especialistas em geriatria, medicações, grupos de convivência, fisioterapia e tantos outros grupos de apoio.

Contudo, muitas dificuldades também surgiram a partir destas mudanças socioeconômicas. Muitos aposentados tiveram que retornar ao mercado de trabalho para complementar sua renda financeira e contribuir no sustento, além de ajudar nos estudos de filhos e netos. Há ainda fatores negativos desde perda de pessoas da família e amigos, distância dos filhos por trabalho ou desavenças familiares, falta de amigos, uso de álcool, problemas de saúde que se agravam como, por exemplo, esclerose múltipla, demência e AVC. São as mais diversas situações que trazem sofrimento para aquele que já está em um processo de limitação de suas tarefas cotidianas.

Diante das dificuldades a pessoa, nesta fase, olha para si e a sua volta e percebe um sentimento de vazio, a tristeza começa a fazer parte do dia a dia, a depressão se instala e as "dores" se intensificam pelas excessivas preocupações. Envelhecer perante esses sentimentos se torna prejudicial, uma vez que seus pensamentos permanecem no passado.

Idosos podem manter uma boa qualidade de vida referente aos aspectos físicos e psicológicos buscando auxílio no apoio familiar e redes de assistência na comunidade que incluem: clube de mães, ginástica no parque entre outras atividades físicas, passeios da terceira idade, atividades em grupos nos bairros. A busca e a participação de um grupo religioso ou de uma espiritualidade traz uma sensação de amparo, bem-estar e recursos para o enfrentamento das dificuldades, bem como, para entender a morte.

Essas diversas oportunidades na sociedade visam promover a saúde integral, observando é claro, suas limitações. Participar destes recursos psicossociais passa a minimizar os efeitos negativos dessa fase, contribuindo para ativar capacidades, melhorar sua autoconfiança, seu estado emocional, além de estar em contato com outras pessoas e favorecendo encontrar sentido na vida a partir das novas experiências.

A terapia com um profissional de psicologia é um meio para entender o sentido de existir, as transformações do envelhecimento, de resignificar os acontecimentos e desenvolver uma nova atitude diante de sua vida. Na psicoterapia com idosos são utilizadas intervenções que ajudam a resgatar valores que pautaram a vida, fazer perceber quais são os reais conflitos, as resistências e olhar o envelhecimento como um processo de amadurecimento, com respeito. Sendo fundamental desenvolver a percepção de uma vida positiva para diminuir a angústia.

A fase do envelhecimento se torna uma maneira positiva e confiável de viver através do acompanhamento psicológico e participação em grupos sociais. No decorrer do caminho as perdas são inevitáveis, mas deve-se olhar esta parte negativa do processo de uma maneira diferente. Só então se perceberá a alegria de viver, da graça dos movimentos e que existe um leque de possibilidades que ainda são possíveis para conquistar.

Psicóloga Roberta Ferronatto CRP 07/26116

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