Entenda o que é a fibromialgia

Fibromialgia é um desafio para médicos e pacientes devido à dificuldade em estabelecer um diagnóstico.

10 JAN 2017 · Leitura: min.
Entenda o que é a fibromialgia

A fibromialgia (FM) é caracterizada, principalmente, por dor músculo-esquelética generalizada, difusa, muitas vezes migratória, e aumento da sensibilidade a uma variedade de estímulos (Sociedade Portuguesa de Reumatologia, 2016). No entanto, pode também apresentar fadiga, alterações do sono e cognitivas, que influenciam substancialmente o bem-estar geral dos doentes. O critério de diagnóstico se resume no aparecimento de dor generalizada, que se mantém a um nível semelhante por pelo menos 3 meses, além do doente não poder apresentar qualquer outra doença que possa explicar a dor. A dor generalizada pode ser definida como dor axial, do lado esquerdo e direito, e de segmento superior e inferior (Wolfe, et. al., 2010). As alterações cognitivas são comuns nestes doentes, mas não têm recebido a devida atenção da comunidade médica (Ambrose, Gracely & Glass 2012).

A FM é um desafio para médicos e pacientes devido a sua constelação de sintomas, que é frequentemente partilhada com outras condições de dor crônica, e a falta de um exame de auxílio diagnóstico definitivo e/ou causa conhecida (Horowitz, 2015).

A etiologia é ainda desconhecida. Este distúrbio provavelmente representa uma disfunção neurológica e pode ser o resultado dos efeitos persistentes de estresse (por exemplo: trauma físico, doença reumática localizada ou sistêmica, doença viral, ou stress emocional prolongado). Embora o estresse seja apontado como uma das principais causas, a realidade clínica indica que a causa provável é multifatorial, com uma variação de etiologia entre os indivíduos (Glass & Park 2001).

Os doentes com FM, quando expostos a dor aguda, mostram um padrão de ativação cerebral diferente do encontrado em pessoas saudáveis (Bradley et. al. 2000). A ativação cerebral tende a ser maior e bilateral, mesmo quando expostos a estímulos dolorosos unilateralmente, além de indicarem limiar de dor reduzido. Esses achados levam a suspeita de que a FM pode ocorrer devido a uma predisposição à sobre-activação do sistema nervoso diante do estímulo doloroso (Üçeyler, et. al. 2015).

Alguns estudos sugerem que as áreas cerebrais dedicadas a percepção da dor crónica são as mesmas, ou compartilham as mesmas vias, que algumas funções cognitivas (ex: atenção), e que, o recrutamento dessas áreas em uma maior ativação para percepção da dor, acabam por resultar em pior desempenho nestas atividades cognitivas (Glass et. al., 2011; Napadow et. al., 2010).

Glass et al. (2011) identificou ainda que há um recrutamento de outras áreas do cérebro como forma complementar ao processamento dessas funções cognitivas.

Os défices de atenção são muito comuns nesta patologia. A dor acaba por orientar a atenção para a área afetada, o que pode, por vezes, resultar em uma competição entre dois processos concomitantes que requerem os recursos da atenção (Guisart & Plaghki, 1999).

Um aspecto marcante da doença são os autorelatos, praticamente universais, de doentes com FM, que se referem a função cognitiva e ao estado de alerta mental como diminuído, e o seu desempenho cognitivo diário se encontra comprometido. Estes doentes descrevem que processam a informação de forma menos eficiente, tem dificuldade em lembrar-se das coisas, e são incapazes de realizar tarefas cognitivamente exigentes, as quais realizavam anteriormente. Estes sintomas são, muitas vezes, mais incapacitantes que a própria dor (Glass & Park 2001). Mais especificamente, relatos de profissionais de saúde e doentes, sugerem possíveis défices de atenção, concentração e memória (Grace et. al., 1999).

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Escrito por

Raphaela Figueira Amorim

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