Emoções, pandemia e reinvenção

O presente texto relaciona alguns conceitos psicológicos com as experiências emocionais que foram causadas pela pandemia.

4 AGO 2021 · Leitura: min.
Emoções, pandemia e reinvenção

A vida da nossa sociedade, antes de 2020, já apresentava um comportamento extremamente acelerado, onde ninguém mais se "conectava" com o próprio interno, de alguma maneira, as pessoas estavam ligadas no "piloto automático", sem muito pensar a respeito das suas vidas porque o mais importante era "funcionar", "produzir". Em março de 2020 o Brasil parou. Vários lugares do mundo já haviam parado, mas aqui, a "ficha caiu" em março. A partir daí, muitas vidas começaram a mudar e ainda estão mudando. Muitas vidas foram perdidas e enquanto escrevo este texto, mais vidas estão sendo interrompidas e para cada vida que se perde, no mínimo, temos de dez a vinte famílias enlutadas. Estamos ainda, lutando para sobreviver a esse caos, a esta guerra.

Pensando nos efeitos desta realidade, trago para pensarmos á respeito do funcionamento do nosso cérebro e toda a engrenagem cognitiva a fim de compreendermos os aspectos emocionais decorrentes das sensações de medo diárias e os sintomas que eclodiram com a pandemia. Para tal, é necessário que possamos conhecer alguns conceitos básicos, como Cognição: segundo o psicólogo Paul Mussen, a cognição é um conceito amplo e abrangente que se refere às atividades mentais envolvidas na aquisição, processamento, organização e o uso do conhecimento.

Os processos principais envolvidos no termo cognição incluem detectar, interpretar, classificar e recordar informação; avaliar ideias; inferir princípios e deduzir regras; imaginar possibilidades; gerar estratégias; fantasiar e sonhar (MUSSEN et al.,1988). O conceito de Atenção: A atenção pode ser definida como uma "abertura seletiva para uma pequena porção de fenômenos sensoriais que se impõem" (DAVIDOFF,1983). Assim, para que o organismo não seja sobrecarregado, considerando a enorme quantidade de estímulos disponíveis para os seres humanos e outros animais, durante o estágio de vigília, é preciso escolher quais destes estímulos serão realmente percebidos, papel que cabe à atenção. Segundo os psicólogos da Gestalt (KOHLER,1980), dentro de um determinado campo de estímulos, nossa atenção se dirige para o foco, que eles denominaram figura, enquanto o restante funciona como fundo para essa figura de forma intercambiável.

A atenção pode ser involuntária (determinada por estímulos externos) ou voluntária (conduzida pela intenção do sujeito). O conceito de Percepção: Segundo Sternberg (2000), é o conjunto de processos pelos quais reconhecemos , organizamos e entendemos as sensações recebidas dos estímulos ambientais. O conceito de Pensamento: Segundo Manis (1973), a atividade mental sem objetivo específico é chamada de pensamento não dirigido, enquanto o pensamento dirigido visa uma determinada meta. Chama-se insight à reorganização mental dos elementos de uma situação problema, levando a uma solução correta para este problema.

Como podemos ver, é uma grande engrenagem que o nosso cérebro precisa realizar para podermos viver diariamente. Sendo assim, retomamos o tema inicial deste texto que são os efeitos da pandemia no estado emocional de nossa sociedade. O impacto frente as mudanças radicais de comportamento, como por exemplo, o isolamento, o trabalho e estudo remoto, as mudanças no comportamento físico (sedentarismo) e alimentar (sobrepeso), sem falar no maior índice de desemprego que o país já passou, são apenas alguns dos exemplos que podemos citar. A partir deste contexto a ansiedade, que já era um sentimento presente em nossa sociedade, tornou-se mais presente ainda, ocasionando, muitas vezes, um estado de depressão ansioso, alterando a vida de todas as faixas etárias.

Logo, como pensar os processos mentais frente a tanto excesso? Como processar tantas emoções? Como dar a atenção devida ao trabalho? Como organizar o pensamento para estudar? Como não perder o foco? Sendo assim, entra o tratamento psicológico que irá ajudar o indivíduo a reorganizar este excedente de estímulos externos e internos que alteram a memória, atenção, percepção, bem como todas as funções cognitivas. O processo terapêutico irá auxiliar nesta restruturação emocional onde o paciente irá "aprender" a encontrar dentro de si, novas possibilidades para a sua adaptação a um estado de coisas que nunca pensou que enfrentaria.

A pandemia obrigou e obriga as pessoas a se reinventarem, a aprenderem a viver e seguir em frente mesmo frente as tristezas. Porém, a reinvenção, não é atributo somente de uma pandemia pois, sempre precisamos nos reinventar. O que aconteceu, de um ano e meio para cá, foi a necessidade de olhar essa reinvenção, de pensar a respeito, de uma maneira mais enfática, sob pressão e pela primeira vez, de maneira coletiva porque todos os humanos estão passando pelo mesmo problema, o enfrentamento de um vírus mundial.

Mas a reinvenção é algo que se faz necessária ao longo da vida. viemos de uma história com nossos pais que iremos repetir por cópia ou iremos criar a nossa, isso é se reinventar. Podemos estudar e nos formarmos em qualquer profissão, porém, temos que criar o próprio estilo e para tal é importante se reinventar. Várias pessoas perderam seus empregos e para seguir em frente, foi necessário, mudar de área ou muitos tiveram que trocar, radicalmente de ramo de trabalho, mas para isso, foi necessário se reinventar. Então, a vida tem mostrado que o mais "inteligente" é aquele que consegue se adaptar as adversidades da vida e reinventar-se diariamente. O trabalho da psicologia é auxiliar o paciente a desenvolver o pensamento, as percepções, as sensações para que este consiga ter a Atenção e Foco necessários para ter condições de se reinventar.

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Escrito por

Psicóloga Mara Dias

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Bibliografia

O Desenvolvimento Psicológico da Criança. Mussen, Paul H. 2 ed. São Paulo, 1988.Editora Harba.

Introdução a Psicologia. Davidoff, Linda L. 1 ed. São Paulo, 1983. Mcgraw-hill editora.

Psicologia Cognitiva. R.J. Sternberg. Porto aAlegre. 2000. Artmed.

Processos Cognitivos. Manis, M. São Paulo. 1973, Herde.

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