Em busca de nós mesmos: olhando para o passado

A nossa história também é constituída pelo "tempo do pretérito", acontecimentos, situações e emoções que ocorreram em nossas vidas e que, de algum modo, foram importantes.

2 ABR 2015 · Leitura: min.
Em busca de nós mesmos: olhando para o passado

"Saudade, esperança, vãos fantasmas, projeções inanes de miragens; vive apenas o instante atual e transitório. É salvá-lo! Salvar o náufrago do tempo."

Esta belíssima declamação poética de vida foi escrita por Raul Pompéia, no século XIX, em seu famoso livro O Ateneu. Para quem não conhece a obra, Ateneu é o nome do Colégio interno, glorioso e magnífico, no qual a elite matriculava seus "varões".

O livro é um mergulho no tempo, pois é narrado pelo próprio personagem principal, Sérgio, contando sua vida de menino dentro do colégio. Sãos os olhos de Sérgio adulto, acompanhando e resgatando o passado, que constituem o romance, com suas peripécias, sofrimentos e magias.

Enquanto leitores, somos convidados a partilhar com ele o universo deste colégio austero, rígido, quase militar, comandado por um insano diretor, Aristarco, megalomaníaco ultraconservador. As relações entre professores e alunos são absolutamente verticais, autoritárias, promovendo o medo e a repressão que herdamos no século XX.

Trata-se de uma obra de arte tão magnífica que poderia suscitar diversas reflexões, inclusive sobre o modelo educacional no qual até hoje estamos inseridos. Mas o que eu gostaria de frisar aqui é a possibilidade de todos nós olharmos para o passado, exercício que o próprio Raul Pompéia realizou através deste livro, considerado autobiográfico.

A nossa história também é constituída pelo "tempo do pretérito", acontecimentos, situações e emoções que ocorreram em nossas vidas e que, de algum modo, foram importantes. Nem sempre temos consciência dessa importância, as vezes nem nos lembramos dos fatos. Por isso, é frequente sofrermos sem saber exatamente o motivo: percebemos que algo do momento presente nos incomoda, mas não justifica tanto sofrimento. Falta-nos, portanto, compreender que o presente carrega consigo o passado e que o passado, enfim, está vivo e nem sempre passou dentro de nós...

Ressignificar o próprio passado e buscar novos sentidos para nossa biografia é um exercício que pode resultar em maior autonomia, responsabilidade e amor pela vida. Em alguns casos, pode até ser redentor, salvando-nos da morte. A arte em geral, a literatura, a escrita, o teatro e a psicoterapia são caminhos possíveis a nos guiar por essa trilha em direção a nós mesmos.

Foto: por bernat... (Flickr)

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Escrito por

Andrea Raquel Martins

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