Dica de um Imperador

A partir do pensamento do Imperador Marco Aurélio (nascido em 121 d.C), o texto aborda a relação entre o julgar a todo o momento e sempre ter opinião para algo, tão presentes no mundo atual.

14 JUN 2022 · Leitura: min.
Dica de um Imperador

A tecnologia tem gerado inúmeras mudanças na sociedade, a maneira de se comunicar, pelo whatsapp, a maneira de se ver, nas selfies, a maneira de ouvir música, de ir ao banco e de encontrar alguém para se relacionar. Com o consumo de notícias não foi diferente, perde-se cada vez mais o hábito de sentar para assistir ao jornal da manhã ou o da noite e substitui-se por um 'jornal 24 horas', na palma da mão, em tempo real, bombardeando com títulos chamativos e pouco explicativos para atrair o clique de quem vê. Tudo passa a ser uma pauta, desde a guerra na Ucrânia até o youtuber na balada. Em tese, com o surgimento de cada vez mais assuntos, deveriam surgir mais questionamentos, porém, o que tem ocorrido muitas vezes é que o 'questionar' tem sido substituído pela necessidade de ter uma opinião para tudo, muitas pessoas gostam de opinar a partir do que leram na manchete ou na nota introdutória da notícia antes de buscarem o questionamento, reflexão ou outras opiniões sobre o que se é debatido. Vemos inclusive os chamados 'cancelamentos' na internet, onde ocorrem espécies de linchamentos virtuais, feitos por ondas de usuários que sentem a necessidade de se postarem contra a opinião que alguém expôs ou ação que tenha feito, como se isso fosse uma espécie de afirmação moral para si mesmos e perante os outros.

A partir disso, escrevo aqui um trecho do sexto capítulo do livro O Guia do Imperador (Editora Planeta, 2007), que contém as meditações do imperador romano Marco Aurélio, que as escreveu enquanto comandava seu exército em meio as guerras. Nasceu no ano 121 d.c, período distante, mas em que já era possível, a partir de muito estudo, pensar não somente além de si e do outro, mas também em uma perspectiva de mundo. Ele foi o último dos cinco grandes imperadores, que governaram durante um tempo de grande organização e integridade no regimento, denominado Pax Romana.

''Existe sempre a opção de não ter opinião. Não é preciso ficar furioso ou perturbar sua alma com coisas que não pode controlar. Essas coisas não pedem que você as julgue. Deixe-as em paz.''

Se essa frase fosse minha, eu completaria após o ''Deixe-as em paz'' com ''Deixe-se em paz''. Não precisamos emitir a nossa opinião para todos os assuntos. Aliás, não é um pouco cansativo ter que ter uma opinião para todos os assuntos? Não podemos simplesmente pensar um pouco e dizer ''não sei''? Antes de procurarmos respostas ou taxar algo, devemos analisar se fazemos as perguntas corretas, caso contrário, entraremos em uma espiral de inércia onde as palavras perdem o sentido.

Se todos tem uma opinião, o espaço para o aprendizado fica restrito e o campo aberto para a reflexão se fecha, isso é o caminho para a estagnação, para o comodismo. Não questionar é ficar onde está.

Por isso, muitas vezes, a terapia envolve muita resistência mesmo da pessoa que a busca. A terapia é o questionamento, é ir além do que a manchete ou a capa estão mostrando, é buscar o conteúdo e esmiuçá-lo, analisá-lo e tirar a pessoa do comodismo, daquilo que incomoda e ao mesmo tempo acomoda. Esse processo envolve se desfazer de julgamentos, entender que muitas vezes o ''não sei'' nos desobriga, nos liberta um pouco mais a cada vez. Vamos caminhando para descobrir a nossa própria verdade, entender nossas opiniões a partir do que vem de dentro de nós, não do que nos é dito de fora a todo o momento.

Bibliografia:

O Guia do Imperador. Editora Planeta (2007).

Vocabulário da Psicanálise. Laplanche, Jean. Vocabulário da psicanálise / La planche e Pontalis; São Paulo: Martins Fontes, 1991.

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Escrito por

Psicóloga Mara Dias

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