Crise econômica e ansiedade no trabalho

Momentos de crise econômica transformam o mercado de trabalho, o que pode causar ansiedade nos profissionais que não souberem se reinventar.

11 MAR 2019 · Leitura: min.
Crise econômica e ansiedade no trabalho

A crise econômica está aí. Para combatê-la são necessárias atitudes no âmbito coletivo, isto é, da participação política e engajamento social. Deste modo, a psicologia como ciência e profissão pode contribuir no campo da psicologia do trabalho, da psicologia social e institucional. Mas, nosso singelo objetivo é tratar deste assunto no âmbito da psicologia clínica, focando na psicoterapia ou na orientação psicológica individualizada que são atividades em psicologia que desenvolvemos.

Entretanto, precisamos lembrar que o nosso estado psicofísico, como o de ansiedade, está relacionado com as condições históricas e sociais nas quais nos situamos. Numa situação de crise econômica, política e social, como a que se apresenta, isto fica ainda mais evidente. As pessoas vivenciam seu futuro como ameaçado, isto porque, concretamente o futuro está ameaçado. As vagas de emprego estão diminuindo, alguns trabalhadores (as) estão sendo demitidos (as), as organizações estão se utilizando de estratégias para economizarem que afetam os (as) trabalhadores (as) negativamente, os aspectos éticos das relações sociais estão em questão e assim por diante. Entretanto é preciso perguntar-se: deixar-me levar pela ansiedade me ajuda ou me atrapalha? A resposta só pode ser uma, estar racional (reflexivo) neste momento é mais positivo do que estar ansioso (emocionado). 

Como manter-se mais racional em tempos de crise

Vamos pensar, então! Como estar mais racional (reflexivo) pode ser mais positivo? Pensamos que o ponto central é manter as relações familiares, amorosa, com amigos e no próprio ambiente de trabalho de tal modo que possa obter e oferecer suporte afetivo para lidar com as dificuldades concretas. Para isso, podemos sugerir alguns pontos importantes para refletir:

  • Conhecer o contexto em que estamos inseridos (as) profissionalmente, isto é, o contexto político, social e econômico da carreira e da organização ou campo de atividades profissionais que pretendemos nos inserir; analisar as nossas perspectivas profissionais mesmo em situação de crise, pois elas existem;
  • Identificar estratégias para enfrentar a situação em que se encontra, por exemplo, fazer algo em benefício da nossa saúde e das relações com os outros (caminhar, passear, namorar, encontrar os amigos, manter a ética no trabalho) e, ao mesmo tempo, fazermos algo em benefício da carreira (fazer um curso ou estudar por conta própria, manter contatos profissionais, pois a rede de relações é fundamental).

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Não podemos esquecer que para realizar-nos precisamos aprender mais sobre as nossas próprias potencialidades e os nossos desejos profissionais. Deste modo, podemos identificar como lidar com dificuldades relacionadas à autoestima e à segurança, reconhecendo, primeiramente, as nossas próprias conquistas. Mas, precisamos entender um pouco mais, também, as condições gerais de trabalho e emprego.

Mudanças no mercado de trabalho

Os profissionais, a partir da década de 90, passaram a investir mais na sua própria carreira do que na ascensão profissional dentro de uma organização. Isto ocorreu, pelo menos por dois motivos. Um deles é a implantação de novos modelos de gestão que ao promoverem mudanças de ordem organizacional, tecnológica e cultural incitaram os gestores a buscarem profissionais prontos a atendê-las em vez de capacitarem os trabalhadores que já faziam parte da organização. Essa condição está cada vez mais presente na racionalidade adotada pelos gestores hoje, seja das organizações públicas, seja das organizações privadas. Essa perspectiva das organizações alimenta a intensa procura dos profissionais que investem na carreira por melhores oportunidades de trabalho, o que gerou certa rotatividade nas instituições.

A procura dos profissionais por melhores oportunidades abriu um campo de atividade no mercado, constituído pelos cursos de especialização, pelos cursos técnicos, cursos de poucas horas destinados a complementar a formação profissional e cursos de línguas estrangeiras. Atualmente, os cursos raramente são pagos pela organização. Portanto, neste novo período, em geral, é o trabalhador quem deve investir na sua capacitação para o mercado de trabalho.

Invista em capacitação profissional

Esta condição da formação profissional impõe aos trabalhadores um campo de possíveis para investirem na sua formação profissional. Este campo de possíveis também se caracteriza pela valorização da técnica na inserção e na ascensão profissional. Justifica-se, então, o fato das profissões tecnológicas estarem em alta (dentro da escassez dos postos de trabalho), e é exigido, cada vez mais do assalariado qualificação, mesmo que para executar tarefas simples.

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Entretanto, há uma diferença entre mercado de trabalho, isto é, os postos de trabalho estabelecidos, e campo de trabalho, ou seja, a necessidade social de serviços. Neste sentido, há um campo de trabalho a descoberto. Dentro deste campo de trabalho a descoberto é importante conseguir prever quais setores profissionais abrirão novos postos de trabalho ou pelo menos, teriam a necessidade de abri-lo.

O que foi discutido até aqui tem como objetivo chamar a atenção para uma habilidade profissional exigida hoje em dia: realizar uma leitura adequada do campo de possíveis alternativas apresentadas pela relação mercado de trabalho e campo de trabalho viabilizando certas escolhas profissionais. Neste sentido, o reconhecimento das potencialidades de quem trabalha – aquilo que a pessoa já realiza e aquilo que ela deseja realizar - quanto à compreensão do campo de possíveis profissional para si mesma deve trazer maior segurança de ser e diminuir consideravelmente ou até mesmo superar a ansiedade frente ao futuro profissional. Não desconsideramos, de modo algum, a participação política e organização de classe, que pode viabilizar os trabalhadores a manterem tanto os postos de trabalho quanto as condições de trabalho adequadas à saúde - o que viabiliza maior segurança de ser no trabalho.

Por Andrea Luiza da Silveira, psicóloga inscrita no Conselho Regional de Psicologia do Rio Grande do Sul

Fotos: MundoPsicologos.com

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Escrito por

Andréa Luiza da Silveira

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