Como reconhecer um relacionamento abusivo?

O relacionamento abusivo é silencioso e destrutivo. Entretanto, há uma série de indicadores que poder ajudar a vítima a reconhecer a dinâmica de abuso e romper com o ciclo de dominação.

5 MAR 2018 · Leitura: min.
Como reconhecer um relacionamento abusivo?

Vivemos um momento de ressignificação da violência. Por muitas décadas, se perpetuou que violência se tratava apenas de agressões físicas; mas, através de mudanças culturais e do divisor de águas que supõe a Lei Maria da Penha, que caracteriza e nomeia os diferentes tipos de manifestação de violência, redes de suporte não medem esforços para conscientizar sobre o que efetivamente é violência, como ela se manifesta e que ela nada deve ter a ver com relacionamentos afetivos.

Com objetivo de auxiliar na identificação da dinâmica de um relacionamento abusivo, estimulando a reflexão sobre sua permanência na relação, a psicóloga Maitê Hammoud preparou uma lista de características que constumam fazer parte dessa realidade. Vale à pena analisar e refletir, em prol da sua saúde e autoestima.

1) Agressivo passivo

Parceiros dominadores em relacionamentos abusivos muitas vezes possuem o perfil de agressivo passivo, algo que dificulta o reconhecimento do parceiro como agressor. A agressividade passiva fere o outro de maneira sutil, tornando difícil a percepção, mas não diminuindo os prejuízos.

O aspecto mais importante do agressivo passivo em um relacionamento abusivo é o fato de usar de falas envolventes, que comprometem a autoestima da parceira(o), contribuindo para a formação de um vínculo de dependência a partir da fragilidade. A parceira(o), que muitas vezes recebe críticas em tom de voz suave, começa a desacreditar em seu potencial, e a aceitar que o que o parceiro diz é para o seu bem.

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Frases como "Você não deve procurar outro emprego...", "Você não fica bem com este tipo de roupa...", "Se você tentar fizer isso, provavelmente passará vergonha..." devem ser consideradas um sinal de alerta.

2) Juras de amor

Juras de amor que se assemelham a falas como "Ninguém nunca irá te amar como eu te amo" costumam estar presentes no relacionamento abusivo. Além do mais, o parceiro dominador frequentemente relata histórias de seus relacionamentos anteriores nas que sempre aparece na posição de vítima, com casos em que foi trapaceado por sua bondade e inocência.

Se seu parceiro repete esses padrões, fique atenta: a história pode estar mal contada!

3) Discussões e questionamentos

Mesmo sem forças para reagir, é normal que a pessoa que está em um relacionamento abusivo se questione sobre a experiência vivida com o parceiro, tratando de entender onde está o limite da normalidade. É muito importante não desconfiar da sensação de estranhamento que sua intimidade desperta em você.

Um bom indicador é estar atenta(o) às discussões. Por mais agressivo passivo que seja o parceiro, elas quase sempre vêm com um aumento drástico do tom de voz e com gritos.

4) Sinais de alerta de violência

Pessoas com perfil agressivas e dominadoras frequentemente sinalizam comportamentos prévios, que não devem passar despercebidos. É comum que se deixem levar por suas emoções, que acabam por culminar em agressões físicas contra objetos. Ao ter que enfrentar as frustrações, respondem com reações desproporcionais de raiva, quebrando objetos e mantendo atitudes enfurecidas.

5) Perfil solitário

É frequente que o agressor possua um perfil solitário, e que aos poucos acabe envolvendo sua parceira(o) na convivência solitária a dois. O parceiro dominador não costuma participar de grupos sociais e, com argumentos românticos, leva sua parceira(o) a se distanciar de sua rede de amigos.

6) Inversão de papéis

Discordar de opiniões costuma resultar em comentários do tipo: "você é louca(o)" ou "você está fazendo drama". Manipulador, o parceiro abusivo arquiteta um jogo no qual consegue fazer a parceira(o) se sentir-se sempre culpada(o) por desencadear brigas e discussões.

Nem sempre os argumentos usados são lógicos. E o poder vai se consolidando porque, mesmo sem compreender as acusações, quem é submisso na relação acaba aceitando a responsabilidade pelos enfrentamentos.

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7) Tristeza e introspecção

O processo de abuso envolve uma dinâmica contínua e, muitas vezes, sutil. Quem o sofre, acaba por sentir uma tristeza persistente, sem conseguir identificar suas causas reais.

Após ser alvo de críticas, julgamentos e sentir culpa pelas discussões, a vítima tende a desenvolver uma personalidade introspectiva, submissa e passiva. Temendo ataques ou explosões críticas e destrutivas, a fragilidade se consolida, podendo ser a porta de entrada para o desenvolvimento de quadros de depressão e ansiedade.

8) Ciúmes excessivo e manipulação

Descompensada, a parceira(o) abandona atividades ou hobbies por medo da reação de quem tem o controle do relacionamento. Através da manipulação, o agressivo passivo faz com que a parceira(o) acredite que deve confiar apenas na opinião dele. Afinal, "ele te conhece tão bem e quer seu bem".

O parceiro dominador teme qualquer situação que possa representar um momento de reflexão ou valorização da vítima. Exatamente por isso, exerce um comportamento ciumento, que desperta na parceira(o) o medo a qualquer coisa que possa despertar ciúmes.

Empodere-se! Busque por ajuda!

O acompanhamento psicológico é fundamental para conceder à vítima acolhimento e suporte na elaboração de experiências traumáticas como essa, já que é o caminho para poder cuidar das dores emocionais. Além disso, o processo favorece o autoconhecimento e fortalecimento emocional, ajudando na tomada de decisões, na imposição de limites e na busca por futuros parceiros compatíveis com seus valores e perspectivas de futuro.

Vale lembrar que os relacionamentos abusivos não se restringem apenas à prática violenta de um homem contra uma mulher, podendo também ser praticados por uma mulher contra o homem e também nos relacionamentos homoafetivos. Em qualquer caso, exigi-se a mesma seriedade e cuidados.

Se você se sente em um relacionamento abusivo, não deixe de procurar ajuda de um psicólogo! Também é recomendável buscar suporte da Justiça, através do telefone 180, no qual é possível fazer denúncias anônimas. Outro caminho é se apresentar na Delegacia da Mulher para orientações e medidas de proteção.

Fotos: MundoPsicologos.com

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Escrito por

Maitê Hammoud

Psicóloga clínica com curso de aperfeiçoamento em psicanálise, é especialista no atendimento de adolescentes, adultos e terceira idade. Seguindo a abordagem psicanalítica e da terapia breve, atua com foco em transtornos emocionais e comportamentais, relacionamentos interpessoais e questões familiares.

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Comentários 6
  • Rosimere de Brito Freitas

    Hoje vejo que vivo em um relacinamento abusivo por meu esposo. Não há alegria, não há sexo ,conversa, não trabalha. Paguei curso de corretor de imoveis, ele começou a vender, nunca me falava de suas vendas. Um dia liguei para ele e ,,, Esquceu de desligar o aparelho e eu ouvi ele contando aos seus amigos dessa forma : sacaniei muito a minha mulher que, peguei uma baranga nem sei como consegui. Fiquei em chque. Arrumei uma confusão. Expulsei ele de casa. Sou evangélica e perdoei, isso foi em 2013. Paguei curso de instrutor de direção, nunca trabalhou. Agora não trabalha. Fica em casa. Nosso carro que está no meu nome, disse a ele vai trabalhar de UBer. Só ficou um mês, disse que não vale a pena. Fiz de tudo para ajudar. Já tive câncer de mama , sou diabética, ja tive várias internações. É como se ele fosse meu dono, de maneira sutil me chama de burra e velha. Sai domingo de manhã e volta a noite desde que casamos . Não vquero mais isso ,preciso de ajuda. Já o mandei embora, mas ele não vai.

  • Vitoria Ferreira

    Boa tarde.mt interessbre a materia .gostaria de saber se esse comportamente tb Acontece entre amigas? Achei alguns topicos bem familiar..

  • Vanuzia Carneiro

    Um relacionamento familiar também pode vir a ser abusivo vivi na adolescência fatos que marcaram minha existência hoje fiz recentemente 53 anos sobrevivente de uma mãe Narcisista a única saída para me proteger deles genitora e irmão agressores foi sugestão até do infectologista Roberto Badaró do hospital das clínicas em Salvador sair do ambiente hostil e assim segui sua receita na época estava com apele em feridas tudo pelo emocional fragilizado com a violencia.Agora mais segura de meus direitos e empoderar no sentido de saber que é preciso coragem para se posicionar e mostrar a verdadeira face da Violência Doméstica familiar potencializada pela Violência Institucional ambas estão denunciadas mas os Direitos humanos esquece seu papel dentro de uma sociedade que atingiu o auge da sua desumanidade ao banalizar a Vida e afroxar as leis que deveriam nos proteger e defender dando penalidades mais duras sem pagamento de fiança A Lei Maria da Penha abrange um leque extenso de violências no entanto são mal interpretadas e os jornais Safran nossa esperança de um poder judiciário mais enérgico É muito teatral as promessas políticas de mudança é essa cortina se fecha a cada tentativa de ceifar a vida de nós SERES HUMANOS.Estou sobrevivente desse pacto de silêncio dessa PERMISSIVIDADE COLETIVA.Vanuzia Carneiro Vítima de Violência Institucional e Vítima do Crime de Psicofobia em Salvador Bahia Brasil.22/04/2018 06h28 Paz Mundial

  • Leidiane Oliveira de lima

    Temos que respeitar independentemente de gênero etinia... diga não a violência!

  • Angela Caixeta

    Eu vivi em um relacionamento abusivo por muitos anos. Criei coragem pedi a separação depois de 29 anos de casada, e agora lendo esta postagem me identifiquei muito, onde me afastou de tudo e todos, sempre so nos dois, de ciumes doentios e acusacoes infundadas. Acabei com depressão e crises de ansiedade e hoje tentando me reerguer.

  • Suzana Mogari

    Eu passo por um relacionamento abusivo, me encaixei com quase tudo o que li. Difícil mesmo quando alguém nos diz amar e ferir com palavras ao mesmo tempo, isso me fez desencadear depressão, síndrome do pânico, hoje estou em tratamento,mas sei que esse relacionamento não me faz bem

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