Algumas ideias sobre o filme "Fragmentado"

Algumas ideias sobre o mais recente filme de Shyamalan. O Transtorno Dissociativo de Personalidade ainda é um dos mais desconhecidos na Psiquiatria.

10 MAI 2017 · Leitura: min.
Algumas ideias sobre o filme "Fragmentado"

Adoro os filmes do Shyamalan, pode parecer clichê começar o texto por aqui, mas eu precisa indicar que vi o filme de uma forma bem passional, afinal, além do diretor, ainda tinha o James McAvoy no elenco.

Bom, só ele já era quase todo o elenco, afinal eram 23 personalidades. Isso não é spoiller, é a premissa do filme, uma pessoa com Transtorno Dissociativo de Personalidade. E o filme fantasiou bastante, mas achei que o tema foi tratado com muita precisão e sutileza, fosse pelas informações que a psicóloga representada pela veterana atriz Betty Buckley ou pela incrível atuação de McAvoy. Aliás, por mais que eu goste de Joaquim Phoenix, que era o ator que interpretaria Kevin, McAvoy deu o tom do filme, mostrando sua versatilidade e capacidade interpretativa ao mudar a forma de olhar e o espectador saber que era outra personalidade que estava falando. Claro que a forma que o diretor enquadra favorece, mas a capacidade de alterar a forma como a musculatura do rosto fica para interpretar as outras personalidades é mérito do ator.

E esse Transtorno? Em uma cena do filme, dentro do consultórioda psicóloga é possível ver o livro Sybill, um caso clássico de múltiplas personalidades, mas que ainda é bem contraditório para alguns profissionais de saúde. Existem muitos artigos científicos que indicam as diferenças entre uma personalidade e outra, no filme, uma das personalidades é diabética e precisa usar insulina. Existem casos relatados dessas diferenças físicas entre as personalidades e uma ficou famosa ano passado, de uma senhora cega que sofria desse distúrbio e, que, enxergava com uma de suas personalidades. Sem entrar em questões éticas posso dizer que sim esse Transtorno existe, traz sofrimento e muitas vezes ele surge após uma vida com muito sofrimento, perdas e abusos. No caso do filme ele retrata como a mãe de Kevin era abusiva sem mostrar uma cena explicita, apenas pelo terror dos olhos escondida embaixo da cama. Como Hitchcock é a grande inspiração de Shyamalan, dá para lembrar de uma frase que o diretor inglês usava muito que dizia mais ou menos assim: "só era para usar diálogos quando não puder explicar com imagens." A atuação, muitas vezes silenciosa (o que favorece que nós espectadores criemos diálogos internos e muitas vezes mais terroríficos que o real) tem essa função, assim como a direção de arte que deu um show com as diferenças entre os cenários para mostrar a fragmentada vida mental do personagem, o cativeiro e o banheiro das meninas, para citar apenas um exemplo da construção desse filme.

As diferentes personalidades podem ser compreendidas como vários aspectos da estrutura de Kevin que se forem associadas lhe trarão sofrimento, necessitando assim estarem separadas e bem bem diferenciadas. A criança, a mulher, o historiador, o paranóico, o predador sexual, o que é Obsessivo Compulsivo; enfim, cada um com uma própria história relacionada a história real de Kevin, isso tudo mostrado em trechos de sua psicoterapia ou no diálogo com suas "presas".

Ah, eu falei sobre cativeiro, então, sem entregar muito o filme, ele começa com Kevin sequestrando 3 adolescentes e levando-as para seu cativeiro, enquanto sua 24a personalidade começa a aparecer. Parece simples, mas é nesse cenário que o distúrbio de Kevin fica evidente, assim como a excelente atuação de "presa" de Anya Taylor-Joy e sua personagem Casey.

O "presa" ali em cima porque ao longo do filme fica explicito que McAvoy estava há dias vendo o hábito das garotas, em cenas sutis como a câmera por trás dos arbustos logo no início do filme. Mas a história de Casey é contada em forma de flashes e é impossível não ficar tocado como ela tenta lidar com tudo o que vai acontecendo. A adolescente tida como esquisita pelas outras amigas, levada por impulso, que não reage e tenta fugir na cena de sequestro, que usa roupas demais, que quer saber com qual personalidade está conversando e até convence que o sequestrador dance, que para mim é uma das melhores cenas do filme! Eu gostei bastante, a perseguição final entre a 24a personalidade e Casey é emocionante no sentido que aquele não é o maior monstro que ela enfrentou ou vai enfrentar, como fica evidente novamente na forma em que ela olha para a câmera. Teve gente que não gostou do final, achou que não teve aquela reviravolta tão característica de Shyamalan, mas para mim teve sim e mal posso esperar para ver o próximo filme.

O filme é forte, eu saí do cinema com várias ideias, entre elas a de voltar a escrever um pouco sobre filmes e com isso começar o blog, deve ter despertado algum aspecto da minha personalidade que não estava sem a "luz", como é dito no filme, e torcendo para assistir um bom filme para comentar aqui novamente.

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Escrito por

Psicóloga Iara Giraldi

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