Adolescência e a família

A adolescência é um dos temas mais estudados na psicologia, porém, quando pensamos que o assunto se esgotou, sempre temos algo a dizer.

25 NOV 2020 · Leitura: min.
Adolescência e a família

Para que possamos compreender melhor a fase da adolescência, retomemos o período anterior, a infância. Quando os nossos filhos são pequenos, eles nos acompanham em todos os nossos programas, decidimos qual a roupa que irão vestir, a comida que irão comer e principalmente os amigos que irão ter. Com a chegada da adolescência, há uma alteração de todo esse processo. A partir de agora, não teremos tanto "domínio" assim. Surgirão novos desafios porque corpo e mente estão em transformação. Antes, eles obedeciam e achavam graça de tudo. Aos poucos, eles começam a argumentar e analisar a fala dos pais e nem tudo é assimilado de forma imediata.

Segundo *Arminda Aberastury (1970), "Neste período flutua entre uma dependência e uma independência extremas, e só a maturidade lhe permitirá, mais tarde, aceitar ser independente dentro de um limite de necessária dependência. O cognitivo está amadurecendo e com isso, surgem questões que antes não faziam parte da sua vida, por exemplo, conceitos sobre princípios políticos, filosóficos e algumas críticas à respeito do comportamento de sua própria família. Nessa etapa, há a valorização do grupo e este, tem a "responsabilidade" de validar seu corpo e seus pensamentos e suas atitudes. Há uma comunicação empática entre eles que os torna mais "fortes".

Segundo Minuchin e Fishman (2003): "Com a adolescência, o grupo de companheiros alcança muito poder. É uma cultura em si mesmo, com seus próprios valores sobre sexo, drogas, álcool, maneira de vestir, política, estilo de vida e sobre o futuro. Agora a família está interagindo com um sistema forte e muitas vezes competitivo e a competência crescente do adolescente torna-o mais apto a demandar acomodação de seus pais". Enfim, podemos enumerar várias características desta fase da vida que é um período que mexe com a vida dos pais e dos filhos de maneira que podemos olhar a partir de uma perspectiva de um verdadeiro "caos" ou a partir de um olhar otimista que é a visão da psicologia. Porém, para que tenhamos esta visão, é necessário entendermos melhor à respeito dos fenômenos adolescentes.

Quando pensamos nestes, geralmente nos referimos as "atrapalhações de adolescentes", mas erroneamente, deixamos de analisar que também existem as "atrapalhações" dos pais. Jamais podemos esquecer que estamos falando em pessoas, emoções, afetos e tudo isso está inserido dentro de uma família e a partir desta idéia que as situações não podem ser analisadas de forma isolada, ou seja, pertencendo somente ao adolescente. Os pais, por exemplo, exigem que os filhos expliquem a eles, à respeito de uma certa mudança de humor que se altera do dia para a noite e que muitas vezes, nem eles entendem muito bem.

Esse fenômeno não acontece eventualmente, pelo contrário, se repete várias vezes. Tal comportamento se justifica porque os hormônios estão em "ebolição" e o comportamento pode ficar mais agitado ou mais "introspectivo". Nestes momentos, é importante que os pais possam acolher o adolescente e como se faz isso? Encorajando seu filho, abrindo espaço para o diálogo e o acolhimento de seus pensamentos e principalmente, seus questionamentos.

E mais importante, compreender que seu filho pode e muitas vezes deve, pensar diferente dos pais e isso não significa que ele não ama mais a família ou que está "abandonando" a todos. Não, isso significa que ele está fazendo o exercício de se experimentar no mundo porque está em busca do próprio conhecimento, da sua identidade e para isso ele necessita de liberdade. Haverão conflitos e isso é inerente ao contexto e estamos falando em pais e filhos e se não existir nenhuma "desacomodação", então, não será uma família.

O manejo frente as adversidades é o adulto compreender que ele tem que exercer uma autoridade moral e não uma disputa pelo poder. É compreender que essa necessidade de liberdade que o adolescente almeja é na mesma proporção a necessidade de ser olhado, amparado e cuidado pelos pais porque somente assim ele poderá se sentir seguro para poder amadurecer. Para uma adolescência saudável é preciso que os pais suportem o choro do seu filho, que suportem escutar os seus dilemas, que suportem a sua instabilidade de humor e que frente a isso tudo, não fiquem do mesmo tamanho do seu filho porque isso irá gerar muita ansiedade e uma enorme sensação de desamparo, nele. Que possam ter a postura de pais adultos e se por acaso se sentirem inseguros com essa fase, sem saber como lidar, procurem ajuda profissional para compreender melhor esse processo, essa é uma atitude, acima de tudo, responsável e de muito amor.

PUBLICIDADE

Escrito por

Psicóloga Mara Dias

Consulte nossos melhores especialistas em adolescência

Bibliografia

Adolescência Normal. Aberastury, A. Editora Artes Médicas.10°edição. Porto Alegre/1992.

Técnicas de Terapia Familiar. Minuchin, Salvador. Editora Artmed. 2° reimpressão. Porto Alegre/2003.

Deixe seu comentário

PUBLICIDADE

últimos artigos sobre adolescência

PUBLICIDADE