Adolescência dos filhos, pesadelo dos pais?
Todos os pais desejam ver seus filhos se tornando adultos maduros e responsáveis, mas frequentemente as estratégias utilizadas para isso são incoerentes.
Enquanto a ânsia de liberdade da infância é poder brincar e se aventurar livremente pela própria casa, na adolescência, essa ânsia se amplia, levando-os a se aventurarem pela cidade, pelos passeios com colegas ou mesmo interagir com o mundo todo sem levantar a bunda da cadeira.
E isso inevitavelmente assusta os pais, pois os filhos se encontram agora fora dos olhares.
"Enquanto ela não chegou eu não fui dormir"
"E se minha filha tiver conversando com um pedófilo na internet?"; "Eu confio no meu filho, mas não confio nessas companhias dele"; "Minha filha falou que foi dormir na casa da amiga, mas vou ligar para a mãe dessa menina para saber se é verdade"; "De onde esse menino arrumou esse boné? de onde tirou dinheiro? quem deu esse boné pra ele?"; "Minha filha... onde você pensa que vai com essa roupa?".
Se durante a infância os pais diziam "minha filha ou está comigo ou está na escola", na adolescência ela pode estar em qualquer lugar, impossibilitando os pais de protegerem e vigiarem o tempo todo. As coisas fogem do controle. Assustados, é comum que os pais queiram reassumir a liderança perdida tentando intensificar a vigilância e o controle sobre os passos e decisões dos filhos.
Quem não conhece ao menos algum jovem, de pais extremamente rigorosos e controladores, que faz de tudo quando está fora dos olhares dos pais? Parece até que quanto mais os pais impõe "X", mais o jovem quer fazer "Y". Isso não acontece exatamente porque ele gosta de contrariar, mas parece ser um profundo desejo de afirmar a sua própria escolha, de garantir sua independência. "Se a opção 'X' pertence tanto aos meus pais, ser independente e livre só pode significar optar por 'Y' ".
Tirando o cabresto
Controlar as escolhas dos filhos pode ser um grande erro. Primeiramente, porque isso não é possível sem custar a maturidade deles. O grande desafio a ser cumprido durante a adolescência será conquistar a liberdade com responsabilidade e isso inevitavelmente envolverá alguns riscos. Adolescer e se tornar adulto significa aprender a fazer as próprias escolhas, tomar decisões importantes quanto à própria vida.
Como alguém poderá assumir a responsabilidade e as consequências de cursar uma faculdade de Direito, por exemplo, se a escolha do curso tiver sido feita pelos pais? Ou mesmo, como poderá se dedicar nos estudos para um vestibular de uma faculdade em que não deseja estar? Muitas pessoas vão muito longe seguindo as escolhas dos pais, mas em algum momento da vida se descobrem profundamente infelizes por não terem construído o próprio caminho.
Nesse momento de crise, alguns se conformam e, como de costume, preferem não arriscar em assumir as rédeas da própria vida: "é tarde para isso". Outros iniciam uma grande reviravolta na vida para cumprirem o estágio que não puderam cumprir na adolescência: "é o momento de aprender fazer minhas próprias escolhas e aprender a cuidar da minha própria vida".
"Pode tirar seu cavalinho da chuva!"
Muitos pais acreditam que será impondo as "coisas certas" aos adolescentes que os farão responsáveis. O erro começa na compreensão do que se chama de responsabilidade. Frequentemente quando dizem que querem um filho responsável estão na verdade querendo dizer que querem um filho que faça as coisas que os pais achem certas. Isso, na verdade, é obediência e não responsabilidade. Há muitos filhos obedientes e irresponsáveis e filhos responsáveis e desobedientes, por exemplo.
Mas vejamos... a responsabilidade é a capacidade de considerar as ações e suas respectivas consequências como próprias, frutos de si mesmo. Ou seja, para que alguém se responsabilize pelas consequências é necessário que as decisões e ações tenham sido próprias. Do contrário, acreditará que as consequências são de quem impôs as ações, no caso os pais. E isso serve tanto para coisas boas como ruins.
"Meu pais dizem que não devo de modo algum usar drogas. Eu tenho curiosidade e quero conhecer. Então, utilizando escondido, satisfaço minha curiosidade e não decepciono meus pais, já que não saberão".
Esse raciocínio comum aos jovens, apesar de ser compreensível acaba sendo uma armadilha. E o maior problema será o "fazer escondido" para fugir da incompreensão e repressão dos pais. Desde a curiosidade até o agravamento do caso, qualquer problema será mais fácil de cuidar quando há proximidade e parceria entre os pais e os filhos.
Madurando no pé
Na adolescência, o pensamento do jovem já está se tornando naturalmente independente das concepções dos pais, mas ainda precisará aprender a gerenciar as ações, arcar com as consequências e aprender com elas. O adolescente precisa aprender a experimentar a vida sem precisar arriscar tudo. Será a função dos pais fornecer um ambiente seguro para o jovem iniciar suas experimentações.
Uma excelente maneira de fazer isso é ouvir com atenção as opiniões dos filhos adolescentes, valorizá-las, negociá-las e experimentar juntos. Por exemplo, para uma viagem em família, ou um passeio de final de semana, os pais podem/devem considerar as sugestões dos jovens quanto à escolha dos locais para irem. Saber negociar e interagir com o jovem é muito mais importante do que "mostrar quem manda".
Mesmo que a escolha do jovem possa ser desconfortável para os pais, quando os pais e os adolescentes pensam e decidem juntos ocorre uma aproximação do "universo deles", passando a conhecer os interesses e escolhas dos próprios filhos. Essa concessão e aproximação será essencial para que os adolescentes também valorizem, respeitem e considerem as opiniões do pais. Portanto, é necessário ensinar o respeito à opinião pelo exemplo e não pela opressão.
Revezando o volante
Com tudo isso, ser pais não opressores não significa que devam ser coniventes com tudo. Talvez esteja aí a maior dificuldade: os extremos da opressão ou da omissão; da perseguição ou da negligência. A regra é: construir as regras juntos. Obviamente que em vários momentos os pais serão impelidos a serem inflexíveis em suas ordens e determinar limites intransponíveis, mas esse não pode ser o funcionamento padrão de todas as coisas. Se aliar e não sufocar a autonomia, independência e liberdade dos adolescentes produzirá belas pessoas.
As informações publicadas por MundoPsicologos.com não substituem em nenhum caso a relação entre o paciente e seu psicólogo. MundoPsicologos.com não faz apologia a nenhum tratamento específico, produto comercial ou serviço.
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