A substituição impetuosa do amor

O relacionamento acabou, e agora? Qual a pressa em virar a página ou queimar o livro? Começar um novo relacionamento pode mais atrapalhar do que ajudar neste processo!

21 JUL 2017 · Leitura: min.
A substituição impetuosa do amor

Acabou. Fim. Era uma tarde de inverno, ar seco, o frio do vento não era nada perto do frio na barriga. Um embrulho revirando as entranhas. Em nada lembrava a sensação de "borboletas no estômago" do início do namoro. Mas bem poderia ser uma noite quente de verão. O clima convidando para um banho de mar, uma cerveja gelada, um passeio na orla. Uma noite que prometia! Ah se você soubesse que as promessas nasceram para serem quebradas!

Pode vir sem aviso prévio ou vir sendo anunciado a cada dia. Se tudo que tem começo também tem um fim, o fim chegará para todos. Há "fins" e "finais". De surpresa ou programados, por faltas ou excessos. Pode ter sido você que decidiu romper, ou você que levou o "pé na bunda". Não importa. Ambos terão que lidar com o fim de tudo aquilo que um dia foi um relacionamento.

Acabou. Fim. E agora? Partiu baladinha com as amigas! Partiu beber com a galera! Partiu beijar outras bocas, partiu pegar geral, partiu ser livre, até que enfim ser feliz! Partiu ser superficial, imediatista e vazio. É hoje! Viva!

Não há tempo para a solidão. Imagina sofrer por amor. Quem? Eu? Nunca! A fila anda meu bem. O próximo, por favor. Se o amor é substituível, o nosso parceiro (objeto amoroso) é descartável. Estragou? Deu defeito? Não era bem esse modelo que você queria? Devolve. Pronto! Já substituiu a mercadoria estragada, já gratificou seu ego e já esta pronta pra outra. Ou para a mesma história? O que não se elabora se repete, já nos dizia nossa velha amiga psicologia.

Não se trata aqui de uma ode a um luto por um término, ou mesmo um celibato compulsório. Longe disso. Mas por que não se permitir ficar triste quando a relação acaba? Por que ter a necessidade de mostrar ao outro e ao mundo que aquele à quem, dias (quiçá anos), dedicaste tempo, energia e porque não dizer, o seu amor, não representa nada para você? Já foi. Já era.

Se aquele ou aquela a quem depositei no mínimo um afeto, uma esperança de felicidade, um sopro de alegria, é descartável, colocando-o neste lugar de substituível, também sou eu descartável e substituível. Posto que não sou leal nem aos meus próprios sentimentos. Se já não os tenho, outrora os tive. Se nunca os tive, então estabeleço relacionamentos por outros motivos que não afetivos. Aí já é outro assunto.

Ao se descartar o parceiro como um objeto, descartam-se seus próprios sentimentos. Não se supera um amor perdido, acabado ou fracassado virando a página ou queimando o livro. Superar é aguentar o tranco. Com classe. Sem descer do salto. Ou descendo do salto, "rodando a baiana" e cantando música "sofrência" a plenos pulmões. Acho válido. Superar é chorar no ombro amigo sim e escondido se quiser. É gritar sua dor aos quatro cantos ou no silêncio do seu quarto, confessando ao seu travesseiro. Não apenas pelo outro em si, mas por si mesmo. Pelos sonhos que não se realizaram, pelas expectativas frustradas, pelo amor não correspondido. Superar é tolerar a frustração, a decepção, o desencanto, o desalento, o vazio, a solidão.

Não se supera esquecendo, fingindo esquecer, "cuspindo no prato que comeu", menosprezando a importância do outro. Sejamos honestos. Não se supera pegando geral, mudando status de relacionamento, postando selfie editada de perfil, contando likes. Não se supera evitando a dor do desamor. Da rejeição. Do abandono. Do fracasso.

Como já disse Melanie Klein "quando se desvaloriza o objeto, a perda dói menos, ao mesmo tempo em que se evita sofrer pela ferida narcisista que significa ser abandonado". Terminar dói, no corpo e na alma daqueles que amaram. E ferida não cicatriza do dia pra noite. Ferida cicatriza de dentro pra fora. Enquanto isso se permita tatuar pela experiência.

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Escrito por

Psicóloga Cristiane Mattos

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