A avatarização contemporânea

Como podemos nos encontrar num mundo Real e Simbólico, mergulhado de maneira tal no Imaginário?

17 JUL 2018 · Leitura: min.
A avatarização contemporânea

Avatar e Matrix. Dois filmes sucessos de bilheteria. O Primeiro, 10 anos de espera até a "tecnologia de colagem", através de sensores captados por computador, estivesse pronta. Que espera longa! Poderia chamar isso de "contenção para um gozo maior" ou "investimento para um gozo completo".

O segundo, Matrix, vem trazendo uma temática que focaliza o controle da humanidade por máquinas, onde tudo é controlado e observado. Basta uma conexão, um telefone, um fio de ligação rastreável entre uma ponta e outra. Nele percebemos um duelo eterno entre o bem ("bons" programas cibernéticos, que facilitam – ou controlam – a vida humana) e o mal (vírus, criados em tempos remotos – digamos 2018 – pelo próprio homem os quais o controlam agora), para finalizar, a trama trabalha no sentido real/simbólico do imaginário do ser humano, onde tudo está à mão, como um curso instantâneo de como pilotar um helicóptero de guerra, por exemplo (satisfação instantânea do desejo).

Essas duas analogias da introdução nos remetem a como tendemos a cada dia, avatarizar nossas emoções e sentimentos (desejos).

Ao imediatizar nossas interações nas quais se têm o primeiro contato como se o já tivesse há anos: desfruta-se o prazer num contato virtual e real porém não atual, do ponto de vista presencial, onde essa mesma virtualidade, apenas precisa de dois pontos em uma rede digital, como é o caso do uso da internet na atualidade, da qual para a contemporaneidade, fica impossível imaginar sua ausência.

(O si mesmo se torna mais importante do que o eu – O si mesmo, entenda-se, aqui, como Eu reeditado pelo desejo do outro de participar do processo criador de sua existência trazendo a ideia de ressignificação).O que tem atraído o interesse do adolescente, jovem, jovem-adulto e até do adulto-adolescente hoje, é a facilidade de ter contato, sem tato (o que não deixa de ser real e satisfatório).

As relações têm pairado pelo campo visuo-virtual, voyeurista-exibicionista do corpo desejante e desejado. Fotografa-se partes do corpo, posições que, em próprio prisma, são o melhor ângulo – o que se confirma ou não através de um feedback, muito aguardado! – Há sites especializados em comentar o desempenho sexual masculino, estabelecendo até notas de 0 a 10.

Onde está o Real nisso tudo? Diante de uma atualidade que endeusa o virtualismo, não mais como tal, mas como um novo Real (ou uma nova forma de satisfação do desejo do sujeito pelo objeto). É nesse entrelaçamento, de formas, cores, tons, nuances, misturas(mixes), que se caracteriza a contemporaneidade. Onde o ser singular, em meio a não-barreiras, não-limites tenta se estabelecer como uno, ensimesmado pelas suas próprias satisfações, cujas mudanças constantes, são seu eixo. Sem reedição do eu, não haveria, possivelmente, novas formas de subjetivação. Por isso, desse ângulo de visão, o virtualismo, tem traduzido um novo conceito de sociedade.

Esse diálogo está longe do Avatar ou Matrix? Não! Através dos grandes sites de buscas podemos encontrar, acessar e baixar o que desejamos para nossa satisfação. Queremos mostrar nossas verdadeiras faces, diante de um leque de avatares à disposição? É provável que sim.

Nessa ótica, essa nova cultura, tem sido maior que as revoluções corpo-a-corpo que nossos pais enfrentaram e que constituem a sociedade atual. E na atual revolução silenciosa, mas massiva, da liberação sexual seja online ou offline, sem os apelos do supereu e sob a liberação de conteúdos IDanos, que resultados teremos disso?

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Escrito por

Paulo Sérgio A. Martins

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