Fracasso profissional
Sou mulher, mãe, esposa. Tenho 29 anos. Tive uma boa infância, estou em um relacionamento de 12 anos. Um filho pequeno de quase 2 anos. E agora esperando o próximo com apenas 6s de gestação. Nesse ciclo de vida, formada em Pedagogia, não consigo entender aonde errei. Gosto da minha profissão, mas por anos não consegui emprego na área. Trabalhei por 1 ano como professora regente e 1 ano como auxiliar. Na verdade já trabalhei um pouco mais como regente, porém somente 1 ano com experiência em carteira. Aí em entrevistas, todos me falam "SÓ 1 ano". Praticamente desisti da minha área. Comecei a buscar por empregos de recepcionista, atendente...qualquer coisa. Isso só para não ter que ficar em casa e ser a única pessoa que limpa, lava, passa e cozinha. Engravidar novamente sempre foi um desejo do casal, apesar de que eu sinto que teria sido melhor estar empregada antes. Agora permaneço em constantes pensamentos de fracasso. Ser dona de casa é o típico "trabalho ingrato", não há valorização alguma, sinto que sou um nada dentro da minha própria casa. Meu marido, graças a Deus, ganha mais que suficiente para sustentar a família, mas até onde isso traz felicidade? O dinheiro que alimenta é o mesmo que me subjuga "já que não trabalha, faz as coisas em casa". Eu não consigo ser feliz assim, ao mesmo tempo, independente de gravidez ou não, não vejo futuro profissional. Devia eu ser mais agradecida? Ficar quieta e servir, sem crescer profissionalmente? Acreditar ou até mesmo aceitar que é isso e pronto? Permaneço procrastinando, sentimento vazio, uma derrota.
Meu marido me diagnosticou com uma chamada síndrome do Peter pan. Ao pesquisar sobre entendi menos ainda meu propósito. Se é que ainda o tenho.
Antes de descobrir a gravidez, ao andar de carro pensava em simplesmente direcionar o volante para um poste. Passei a me perguntar se pensava assim de forma consciente. Cheguei a conclusão de que sim, consciente de que estava a pensar em terminar contudo. De tão consciente, tais pensamentos nunca, repito, nunca vieram enquanto meu filho estava no banco de trás. Afinal nesse mundo existem pessoas completamente capazes de cria-lo como um bom homem.
Não consigo entender aonde errei, o que deixei passar... Sempre pensei estar construindo uma boa vida. Hoje não consigo encontrar felicidade em servir a minha família sendo que constantemente sou pormenorizada. As pessoas querem me levar a estudar, trabalhar com coisas com as quais não tenho afinidade alguma, somente porque dão bom dinheiro. Já recebi comentários de marido, de sogra... Para entrar na profissão de analista de sistemas (a mesma do meu marido) para que eu possa fazer dinheiro. Sei que não o fazem por mal, mas será se eles sabem o quanto isso desmotiva? Eu fiz 4 anos de faculdade, num curso ao qual me identifico, pra nada? Pra não permanecer porque não dá dinheiro...
Eu confesso que mal sei dizer o que seria certo, ideal, cômodo ou aceitável pra minha vida... Não sei se passaria por necessidades somente para ter mais apoio com a vivência dentro de casa, em família. Ou se ganhar muito bem para ter condições de pagar quem faça por vc.
Na minha cabeça até soa ridículo pensar que "ela não tem prazer em servir a própria família" . E pode até parecer isso, mas fato é que eu tenho prazer, só que esse prazer acaba quando vejo que estou sendo como escrava da minha própria inutilidade, da minha própria incapacidade em fazer dinheiro.
Fato também é que meu companheiro não tem zêlo com a casa e deposita em mim a responsabilidade com tudo, já que ele põe a comida na geladeira. Mas aí que eu me pergunto, como que faz com a comida crua na geladeira se tornar uma refeição? E nessas horas o discurso é "vc faz SÓ isso"... Como encontrar felicidade nisso?
Minha cabeça é um grande abismo no qual as vezes nem eu me entendo. Nem eu mesma consigo me ajudar. Claro que a situação é muito mais profunda do que o que relatei, e com certeza mais organizada do que palavras soltas, quase que cuspidas.
Sinto que o que me prende no mundo agora é a existência de um novo ser que ainda habita em mim. E por mais estranho, não queria causar dor aos meus familiares, sinto que eles não aguentariam. Mas se antes de descobrir a gravidez, não terminei minha vida, acredito que é porque até nisso seria um completo fracasso.