Tragédia Chapecoense: precisamos falar de estresse pós-traumático

A tristeza e falta de entendimento diante de uma situação de intenso sofrimento podem ser mais duradouras do que se imagina. Vítimas diretas e indiretas do fato podem até desenvolver TEPT.

7 DEZ 2016 · Leitura: min.
Tragédia Chapecoense: precisamos falar de estresse pós-traumático

A triste notícia da queda do avião que levava o time da Associação Chapecoense de Futebol teve repercussão mundial. O lugar da tragédia foi Colômbia, o dia, 28 de Novembro e o resultado imediato, 71 mortos, entre jogadores, jornalistas, diretoria, equipe técnica e tripulação. Seis pessoas sobreviveram e 210 mil chapecoenses, entre familiares e amigos, sofreram com a despedida e o trauma devastador. A psicóloga Maitê Hammoud faz uma avaliação do caso.

No caso de uma tragédia como essa, a recuperação psíquica e emocional chega a ser mais difícil que a recuperação física, exigindo extrema atenção e dedicação. Isso porque há espaço para o aparecimento do Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT), que, como o próprio nome sugere, é algo desencadeado por situações extremas.

Definindo o Transtorno de Estresse Pós-Traumático

O Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT) é um transtorno de ansiedade, que aparece como resposta a um evento que ameaça a integridade física da pessoa ou de terceiros. Trata-se de um fato que provocou no indivíduo um medo intenso, sensação de desamparo ou horror.

Ou seja, não são apenas aqueles que viveram diretamente a situação de trauma que podem desenvolver o transtorno, mas também aqueles que possam ter presenciado ou testemunhado o evento ocorrido com outras pessoas, aqueles que ficaram sabendo que o evento ocorreu com familiar ou amigo próximo ou ao serem expostos de forma repetida ou extrema a detalhes aversivos do evento, como por exemplo, socorristas, policiais ou voluntários em uma situação de tragédia.

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Que tipo de situações traumáticas costuma provocar o TEPT?

Qualquer situação que possa ameaçar a integridade de alguém pode favorecer o desenvolvimento de TEPT, mas algumas delas são fortes indicadores do desenvolvimento do transtorno:

  • agressão física,
  • assalto,
  • furto,
  • abuso sexual (estupro, penetração sexual forçada, penetração sexual facilitada por álcool/drogas, abuso sexual infantil),
  • sequestro ou ser mantido como refém,
  • ataque terrorista,
  • tortura,
  • desastres naturais (enchentes, terremotos, furacões),
  • acidentes (automobilísticos, aéreos).

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Sintomas do Transtorno de Estresse Pós-Traumático

Entre os diversos sintomas que o TEPT pode desencadear, vale mencionar como principais:

  • lembranças intrusivas angustiantes, recorrentes e involuntárias do evento traumático;
  • sonhos angustiantes;
  • reações dissociativas (flashbacks), nas quais o indivíduo sente ou age como se o evento estivesse ocorrendo novamente;
  • sofrimento psicológico intenso e prolongado;
  • evitação persistente de estímulos associados ao evento como, por exemplo, esforçar-se para evitar recordações e lembranças, evitar lugares ou meios de transporte;
  • incapacidade de recordar algum aspecto importante do evento (ter um "branco'');
  • crenças ou expectativas negativas persistentes e exageradas a respeito de si mesmo;
  • estado emocional negativo e persistente (medo, pavor, raiva, culpa ou vergonha);
  • cognições distorcidas persistentes a respeito da causa ou das consequências do evento, que levam o indivíduo a culpar-se a si mesmo;
  • redução de interesse e participação em atividades;
  • distanciamento emocional;
  • comportamento irritadiço;
  • surtos de raiva;
  • comportamento imprudente ou autodestrutivo;
  • hipervigilância;
  • prejuízos na concentração;
  • perturbações do sono;

Tratamento do Transtorno de Estresse Pós-Traumático

O apoio psicológico é fundamental no tratamento de TEPT. Normalmente, estrutura-se a chamada "psicoterapia breve", na qual, em 12 sessões, será trabalhada apenas a situação do trauma.

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Especialistas contam também com as técnicas TFT (Terapia do Campo do Pensamento) e EMDR (Dessensibilização e Reprocessamento por meio dos Movimentos Oculares), que têm como objetivo o reprocessamento de lembranças traumáticas, contribuindo para o distanciamento de tais lembranças e favorecendo o processo e diminuição da angústia vivida de maneira intensa e persistente.

Em alguns casos, o suporte medicamentoso e acompanhamento psiquiátrico também podem ser necessários. No caso do acidente com a Chapecoense, tanto os sobreviventes como os amigos e familiares necessitarão de acompanhamento e apoio. Vale lembrar que nos casos em que o número de pessoas são afetadas é substancial, podem ser estruturadas psicoterapias em grupo. Além disso, a construção de um símbolo (como um memorial) também pode favorecer na elaboração do trauma e do luto.

Fotos: por Nelson Almeida (AFP) e MundoPsicologos.com

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Escrito por

Maitê Hammoud

Psicóloga clínica com curso de aperfeiçoamento em psicanálise, é especialista no atendimento de adolescentes, adultos e terceira idade. Seguindo a abordagem psicanalítica e da terapia breve, atua com foco em transtornos emocionais e comportamentais, relacionamentos interpessoais e questões familiares.

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