Psicologia do Esporte: O que é? O que faz? Como faz?

Apresentando a Psicologia do Esporte ciência e profissão: história, formas de atuação, objetivos, e tudo que você precisa saber.

5 MAI 2018 · Leitura: min.
Psicologia do Esporte: O que é? O que faz? Como faz?

A Psicologia do Esporte no Brasil tem pouco mais do que seis décadas de existência. O início se deu com o professor João Carvalhaes em 1954, no Departamento de Árbitros da Federação Paulista de Futebol. Se para nós, seres humanos, 60 anos é uma idade que indica maturidade e experiência, para uma ciência em desenvolvimento ainda há muito o que percorrer. Mas, aos poucos, vem conquistando seu espaço e reconhecimento.

Mas afinal, o que faz a Psicologia do Esporte?

Na área esportiva é comum valorizarmos principalmente a condição física dos atletas. Porém, cuidar do corpo significa também percebê-lo como um todo unificado, integrado, do qual fazem parte também as emoções e estruturas mentais, e entender que todas as esferas (física, tática, técnica, psicológica) atuam em conjunto e influenciam umas às outras.

Segundo Benno Becker Jr., um dos principais autores brasileiros no assunto, o objetivo da Psicologia do Esporte é investigar as causas e os efeitos das ocorrências psíquicas que o ser humano apresenta antes, durante, e após o exercício ou o esporte, sejam estes de cunho educativo, recreativo, competitivo, ou reabilitador. Em outras palavras, é o campo da ciência que trabalha com os fatores psicológicos (emoções, pensamentos e comportamentos) que afetam atletas e praticantes de atividades físicas, para melhorar o desempenho esportivo ou a qualidade da experiência da atividade física, ajudando atletas e praticantes a controlar suas emoções, seus pensamentos, sua ansiedade, agressividade, relação com companheiros de equipe, entre outros.

Muitas vezes os papéis da Psicologia do Esporte e da Psicologia Clínica são confundidos, quando na verdade são especialidades diferentes, e esta falta de esclarecimento pode dificultar a aceitação do psicólogo esportivo por parte de instituições, atletas, treinadores. Para exemplificar, em um simpósio da CBF em 2016, o ex-treinador da seleção brasileira de futebol, Dunga, manifestou sua resistência ao trabalho psicológico. Nas palavras do próprio Dunga, "o jogador chega na seleção depois de uma viagem de 11 horas, tem poucos dias até o jogo. Ele vai abrir o coração dele (para um psicólogo) em meia hora?". Essa declaração demonstra a confusão que citei acima. Não se "transporta" para o ambiente esportivo o "divã". As estratégias de intervenção dessas áreas podem ser em alguns momentos similares, porém os objetivos são distintos. Na área esportiva procuramos desenvolver as principais habilidades psicológicas para otimizar o desempenho.

Outro ponto levantado pelo ex-treinador diz respeito ao sigilo das informações trocadas entre o psicólogo e o atleta. Ele diz que "não sabe pra quem o cara vai contar o que ouvir". Vale lembrar que a Psicologia é regida por um código de ética elaborado pelo Conselho Federal de Psicologia, e no artigo 9 diz que é dever do psicólogo respeitar o sigilo profissional a fim de proteger, por meio da confidencialidade, a intimidade das pessoas, grupos ou organizações, a que tenha acesso no exercício profissional.

Então é necessário desconstruir algumas ideias equivocadas para que este trabalho possa ser desenvolvido.

A atuação profissional mais conhecida está relacionada aos esportes de competição e alto rendimento. Mas não é só esse o foco. O psicólogo do esporte pode atuar também em:

- práticas de tempo livre: atividade física como manutenção da saúde e do bem estar; - esporte escolar: a relação do praticante com o ambiente escolar, nos mais variados graus; - iniciação esportiva: crianças e jovens envolvidas em atividades esportivas, pedagógicas e competitivas; - reabilitação: recuperação psicológica de lesão, atividade física como meio para reabilitação ou inserção social, obesos, doentes cardíacos, doentes mentais, pessoas com necessidades especiais; - projetos sociais: esporte como meio de educação e socialização de crianças e jovens de comunidades carentes.

Sendo assim, os psicólogos esportivos podem atuar em academias de ginástica, escolas, centros recreativos, clubes, programações educacionais junto a educadores físicos, entre outros. Nesses contextos que não correspondem ao esporte de competição e alto rendimento, o papel do psicólogo consiste em orientar o praticante no sentido de controlar estresse e ansiedade, gerar motivação, prevenir lesões e excesso da prática, visando sempre ao bem-estar, à saúde e ao lazer.

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E de que forma acontece o trabalho da Psicologia do Esporte?

Sempre que se inicia um trabalho, em qualquer área da atividade humana, é necessária uma avaliação prévia.

Vale lembrar que o trabalho psicológico não é imediatista. É muito comum equipes chamarem um psicólogo em momentos de crise, na tentativa de "apagar o incêndio". Para ser eficaz, o trabalho deve ser desenvolvido a longo prazo, através de um acompanhamento sistemático.

Durante esse processo, o profissional utiliza diversas técnicas e ferramentas específicas para o trabalho em questão. Em um primeiro momento ele recolherá informações básicas sobre como funciona a instituição e o grupo esportivo em que vai trabalhar. Para isto utiliza entrevistas, inventários e observações pessoais. É de fundamental importância ouvir a avaliação do treinador e dos membros da equipe técnica a respeito de como funciona a dinâmica do grupo esportivo. São aplicados questionários, realizadas observações de treinos e competições, levantamento do perfil e pontos fortes e fracos de cada grupo ou atleta. A partir das informações obtidas é estruturada a intervenção, que pode utilizar técnicas de relaxamento, ativação, controle de atenção, concentração, mentalização, conforme as necessidades observadas, buscando atingir um estado mental que possibilite seu melhor desempenho.

Concluindo...

Dar aos atletas respaldo psicológico é tão importante quanto lhes fornecer uma alimentação balanceada, programada por nutricionistas, ou um treinamento físico específico, orientado por um educador físico. Mostrar aos atletas que cada profissional contribui com seus esforços e sua técnica para alcançar os objetivos da equipe, certamente é o caminho adequado para o início de um trabalho consistente.

Espero que essas informações ajudem a clarear um pouco a compreensão sobre a Psicologia do Esporte, e que sirva para dar um bom panorama sobre essa área de atuação que vem se solidificando nos meios esportivos.

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Escrito por

Alexandre Herbst - Psicologia do Esporte

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