Pais ausentes, filhos carentes

Crianças e adolescentes têm apresentado inúmeros problemas emocionais. O que está ocorrendo? Seriam problemas genéticos, de ordem social ou psicológicos? Ou uma somatória dos três?

29 ABR 2014 · Leitura: min.
Pais ausentes, filhos carentes

Somos seres bio-psico-social, e isto deve ser lembrado quando falamos do desenvolvimento humano. Nesta discussão, a genética é importante, mas não é o fator que se destaca. O aspecto social tem uma importância considerável, ainda mais se levarmos em conta que precisamos do outro para o desenvolvimento sadio de nossa individualidade e potencialidades.

Entretanto, o aspecto de maior importância e que mais tem afetado e sido causa dos problemas antes mencionados é o psicológico/emocional, o qual vem reforçado por uma convivência sócio/familiar inadequada e desestruturada. Nesse particular refiro-me à convivência familiar, especialmente ao relacionamento pais-filhos.

Nossas crianças estão carentes... carentes do amor, da atenção, do carinho, da responsabilidade de pais e mães. Em 95% dos casos, as crianças ou adolescentes “problemáticos ou doentes (o que é pior)" estão sendo criados em famílias desestruturadas. Em quase todos os casos não se trata de não se ter pai ou mãe, pois mesmo aqueles que cuidam dessas crianças ou adolescentes estão no papel de pai e/ou mãe.

Trata-se, então, de tê-los ausentes. Pais e mães que não participam da vida dos filhos, que não conversam e/ou brincam com os filhos, que não conhecem os amigos dos filhos, que não conhecem os pais dos amigos dos filhos e não traçam estratégicas conjuntas para bem criá-los.

Pai e mães que não sabem os sonhos dos seus filhos, mas que projetam seus próprios sonhos neles obrigando-os, sem perceber, a realizarem o que eles não fizeram. Pais que não colocam limites aos filhos. Mães que não frequentam a escola dos filhos, auxiliando os professores na educação de “seus" filhos.

Os pais precisam tomar consciência de sua responsabilidade. A maternidade, bem como a paternidade, precisa ser planejada e pensada mesmo antes da concepção, para que o bebê nasça num ambiente protetor, estruturado e propício a um desenvolvimento bio-psico-social saudável e perfeito.

Um relacionamento mãe-bebê ideal é aquele em que a mãe se “devota" ao filho e o pai entra como um continente, alguém a proteger essa unidade expressa numa dualidade. O discurso de ambos os pais precisa ser coerente; um não deve contradizer o outro e suas decisões precisam ser lógicas e justificadas. É preciso dizer o porquê do “sim" ou do “não.

E para os casos de crianças e adolescentes que já apresentam um problema social e/ou psicológico? Esperança... esperança que ainda se possa fazer alguma coisa. Esperança que os pais tenham consciência de sua importância e compreendam a responsabilidade e a participação que lhes cabe no tratamento. Esperança de que a sociedade ajude nessa recuperação, pois ela sofrerá a consequência de sua omissão. Só que esperança apenas não é suficiente.

O sentimento (por parte de todos) de que se vive uma situação difícil e querer investir energia numa transformação é fundamental; ninguém faz nada contra a vontade. A partir daí, um trabalho social que integre ações junto aos familiares, escola, comunidade, bem como, um trabalho psicológico de suporte e de reconstrução de autoimagens, tanto das crianças, dos adolescentes e, igualmente, dos pais pode ser o caminho para o retorno de um viver saudável e feliz.

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Escrito por

José Antonio de Oliveira

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