Até logo, mãe!

Muito se fala na fase de adaptação da criança à escola. E para as mães? Cada uma que se vire sozinha com seus sentimentos ambivalentes.

19 JUL 2017 · Leitura: min.
Até logo, mãe!

Nunca gostei de barulho. Sempre acho que a televisão está alta demais, que as pessoas falam alto demais, que menos ruído é melhor em qualquer situação. Há quem se sinta sozinho no silêncio. Eu, sempre me encontrei na quietude. Mas hoje, não. Hoje, o silêncio ecoa em um vazio que surgiu não sei de onde, a casa quieta denúncia ausências, hoje o silêncio cheira a solidão.

É o primeiro dia do meu filho na escolinha. E muito embora eu repita a mim mesma, quase como um mantra, entre uma respiração e outra, que é o melhor para meu filho, para mim, para o mundo, uma voz tímida lá no fundo teima em perguntar: "Será mesmo? Estou fazendo o certo? Quem cuida melhor de um filho que sua mãe? Ele só tem uma infância! Será que preciso mesmo correr atrás da máquina e deixar de viver momentos únicos com meu filho que dinheiro nenhum recompensará? Será que não cortaram o cordão umbilical na maternidade?"

Só uma mãe percebe os olhinhos aflitos e os bracinhos estendidos como uma punhalada no coração. E você diz vai meu filho, vai ficar tudo bem, você sorri querendo chorar, e age como se deixá-lo com alguém fosse a coisa mais natural do mundo, como se você sempre estivesse preparada para aquilo, como se realmente soubesse o que está fazendo.

Eu falo do medo que nos acomete, do sentimento de abandono que nos invade, da insegurança que nos martiriza, do vazio que nos deprime. Engolimos nosso choro e entregamos nosso filho com um sorriso amarelo. E ele vai: "Até logo, mãe!" Sorrindo ou chorando, depende do dia, depende do filho, e depende da mãe.

Nós mamães ficamos tentando juntar cada pedacinho do nosso coração esmigalhado ao ter que nos afastar daquele a quem mais amamos no mundo. Dramático? Provavelmente. Algumas mães mais descoladas tiram de letra, conseguem vivenciar a situação por outro prisma, outras choram na porta da escola mesmo, outras escondido, e outras tantas tratam de organizar a casa, a agenda, vão procurar emprego, ir à academia, tomam um banho demorado. Mas tantas outras, assim como eu, ficam sem saber o que fazer da vida e dos sentimentos.

Eu que muitas vezes reclamei de não ter tempo para mim, não ter disponibilidade para bater um papo entre amigas, para tomar um café sem pressa, para degustar de um livro, logo eu me pego surpresa, por parecer não fazer sentido ter, agora enfim, todo o tempo do mundo.

Muito se fala na fase de adaptação da criança à escola, os comportamentos previsíveis, os choros, o não comer, as brigas, o possível adoecer. E para as mães? Cada uma que se vire, sozinha, com seus sentimentos ambivalentes de culpa, liberdade, tristeza, vazio, alegria, esperança, medo.

Não tem cartilha, não tem apoio, não tem um cantinho para chorar e ser confortada por outras mães, que vivenciam o mesmo processo, não tem compartilhamento, não tem empatia, não tem colo, no máximo você escuta: "é assim mesmo" entre risos. Não tem nada que nos segure. Mais uma vez, ser mãe é solitário. Toda mãe é sua própria rocha, seu abrigo, seu abraço. Cada mãe seca suas próprias lágrimas e se reinventa.

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Escrito por

Psicóloga Cristiane Mattos

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