Ao nascer um bebê, nasce uma mãe

Um olhar para a maternidade real versus idealizada, e todas as mudanças e transformações, físicas e emocionais, que fazem parte desse momento tão importante na vida da mulher e do casal.

18 ABR 2017 · Leitura: min.
Ao nascer um bebê, nasce uma mãe

É muito frequente no senso comum a ideia de que o 'instinto maternal' é inerente à mulher e que a maternidade é vivenciada de maneira plena, sublime, como um período de puro prazer.

A maternidade é constitutiva, um processo que se dá na presença do bebê. É ao nascer um bebê que nasce uma mãe, ou seja, é somente nesta relação com o bebê que a mulher poderá constituir seu novo papel, de mãe, o qual é atravessado por sua subjetividade.Por isso, não há uma maneira única de ser mãe. Há o jeito singular e subjetivo de cada mulher.

A ideia socialmente propagada de que a maternidade é sublime, de puro prazer, desconsidera sentimentos ambivalentes tão comuns neste período como, a frustração, a irritação, o cansaço, a raiva, a sensação de incapacidade.

Essa idealização da maternidade contribui para que muitas mulheres sofram em silêncio, sozinhas, quando se percebem acometidas por sentimentos que são velados socialmente; raramente confessáveis. Há certa relutância em procurar ajuda profissional e até mesmo tocar no assunto com familiares e pessoas próximas. E a ideia de inadequação e culpa, advindas da vivência de sentimentos negativos em relação à maternidade, corroboram para aumentar seu sofrimento. Segundo Maushart (2006), "a máscara da maternidade mantém as mulheres em silêncio a respeito do que sentem, e desconfiadas do que sabem". Esse isolamento pode acentuar os sentimentos conflitantes e trazer dificuldades no desempenhar suas atividades maternas.

Muitos aspectos subjetivos e contraditórios emergem desde o período gestacional até o perinatal. A mulher-mãe vivencia mudanças físicas e psicológicas, de adequação à sua nova imagem e ao seu novo papel, com expectativas sociais e subjetivas sobre tornar-se mãe, e vem neste percurso atravessada por desejos contraditórios que a levarão a escolhas e renúncias, muitas vezes, incompatíveis com suas vontades e desejos. É importante que ela possa falar sobre seus sentimentos e que receba uma escuta acolhedora, desprendida do senso comum, para que possa minimizar seu desconforto, sofrimento e culpa quando presentes.

É esperado que esta mãe tenha recursos emocionais que a capacitem a elaborar as contradições emergentes nesta nova realidade, porém, se estes recursos lhe forem escassos ou inexistentes, abre-se espaço para que o sofrimento psíquico, advindo da depressão, se instale.

Elaborar esses aspectos se faz preventivo em relação à depressão pós-parto, tão comum neste período, e ao pânico pós-parto.

¹ Bebê real: já nascido; não mais idealizado, imaginado na gestação.

* MAUSHART, S. A máscara da maternidade: por que fingimos que ser mãe não muda nada? S.Paulo: Ed. Melhoramento, 2006

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Escrito por

Monique Carvalho

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