A busca pelo estado de felicidade como finalidade da existência

Se pudéssemos encontrar um lugar para essa discussão, sem dúvida traríamos esse debate para o âmbito da busca pela felicidade do sujeito em particular.

16 JUL 2018 · Leitura: min.
A busca pelo estado de felicidade como finalidade da existência

Se pudéssemos encontrar um lugar para essa discussão, sem dúvida traríamos esse debate para o âmbito da busca pela felicidade do sujeito em particular. Entretanto, essa busca existencial se depara com a produção de verdades do mundo moderno, que para entender a felicidade (pelo menos, como a finalidade da vida) produziu duas grandes invenções: a ciência e a arte, que segundo Freud citando Goethe (apud FREUD, 1930, p.19), que diz:

"Quem tem ciência e arte,

tem também religião;

Quem essas duas não tem,

esse tenha religião."

Ao que relata Freud: "Por um lado, a religião é aí colocada em oposição às duas maiores realizações do ser humano; por outro lado afirma-se que ela pode representar ou substituir ambas, no que toca ao valor para a vida" (FREUD, 1930).

Ao que podemos ir mais além no comentário de Freud, dizendo que o convite: "esse tenha religião!", não quer dizer "tenha religião e não ciência e arte", pelo contrário, "comece a ter religião a partir da prática da ciência e da arte". Esse é mais um olhar sobre o que disse Goethe. Entretanto, a vida exterior, não só nos tempos de Freud, é difícil e isso traz bastante sofrimento à vida psíquica, fazendo com que cada sujeito busque suas formas de anestesia do sofrer. Seja através de "gratificações substitutivas" e/ou "substâncias inebriantes" (FREUD, 1930, p.18), as quais tornam o sujeito insensível ao sofrimento.

Portanto, através dessa volúpia de prazeres e desprazeres o ser humano retoma o ponto crucial sobre a finalidade da existência que aparentemente a ciência e a arte não se detêm mais em responder, visto que entendem que só a religião sabe responder (à sua maneira), a essa questão. Só que a ciência, por sua vez, constrói um pilar sobre o programa do princípio do prazer para estabelecer aí a finalidade da vida, tendo assim por resolvida essa questão.

A partir de agora, discorreremos para essa finalidade já apontada para tentar explicar o desvículo com a religião e o vínculo com as novas formas de prazer que hoje parecem subjazer às anteriores. Ainda de acordo com Freud (1930), "felicidade é a satisfação repentina de necessidades altamente represadas e por sua natureza é possível apenas como fenômeno episódico". Isto é, toda satisfação é meramente temporária e só é recorrente à medida em que as necessidades estão por arrebentar represas (barreiras) psíquicas.

Talvez isso explique o retorno constante às satisfações temporárias que hoje percebemos no voyeurismo/exibicionismo através das redes privadas de bate-papo virtual. Mas não entendamos o intervalo entre cada ato, ter curto espaço temporal, isso vai depender do represamento dos desejos, e se mesmo, tal sujeito construiu barreiras fortes através do recalque – fortes, do ponto de vista do superego – no sentido de tentar impedir que conteúdos 'IDianos' emirjam.

Por isso, não se sabe quanto tempo durará àquele gozo proposto através dessas atividades. Nem o quanto essa barreira suportará tal tensão, isso vai de cada constituição psíquica subjetiva inconsciente. Quando o sujeito sentirá a necessidade de satisfazer tal desejo novamente?

Corroborando com Freud, "a felicidade não se torna aqui uma condição de ser, mas de um morno 'bem-estar' e que só garante fruir intensamente apenas o contraste, e quase nada, o estado (de felicidade).(FREUD, 1930, p.20)

A busca pelo ideal de felicidade, através das novas formas de ressignificação corporal, publicado na Revista Humanae da Faculdade Esuda, 2013.

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Escrito por

Paulo Sérgio A. Martins

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